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Análise

OPINIÃO | Papa Francisco é responsável pela politização no conclave

Pontífice se mostrou flexível a temas polêmicos relacionados à Igreja Católica. Para muitos, ele desafiou o conservadorismo.

Por Tadeu Gomes

27/04/2025 às 20:11 | Atualizado em 28/04/2025 às 05:42

Papa Francisco (Foto: Divulgação)

Nos últimos dias, após a morte de Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco, de 88 anos, muito tem se falado sobre o conclave, que é a eleição para a escolha do próximo pontífice. O pleito, porém, não tem sido noticiado como nos anteriores; agora, os jornais fazem questão de frisar a ideologia de cada cardeal 'favorito' para se tornar o novo líder católico.

Sempre que mencionam os nomes dos possíveis candidatos à sucessão apostólica nas manchetes, os portais de notícias como O Globo, Folha de S.Paulo, Veja e afins deixam claro se eles são progressistas ou conservadores, numa óbvia politização.

Parece que agora importa a ideologia, como se isso fosse uma decisão política, não religiosa. O que era para ser uma celebração cristã, parece estar se tornando uma disputa entre esquerda e direita. Isso não ocorreu na escolha de Bento XVI, em 2005, nem na do próprio Francisco, em 2013.

Claro que em nenhum desses conclaves havia a era digital.

Mas a ‘culpa’ dessa polarização ter “invadido” o Vaticano é, em parte, do papa argentino, que se mostrou flexível a temas polêmicos à igreja durante os 12 anos de papado, com um pensamento progressista. Em dezembro de 2023, por exemplo, ele autorizou a bênção de padres a relacionamentos de casais do mesmo sexo.

O motivo foi para aproximar a igreja católica do público LGBTQIA+, apesar de o documento, expedido pelo Vaticano e chamado de “Fiducia supplicans”, não alterar “a doutrina tradicional da Igreja sobre o casamento”.

Questionado sobre isso, o santo padre sugeriu que estava aberto a que a igreja abençoasse esses casais. Também afirmou que qualquer pedido de bênção deveria ser tratado com “caridade pastoral”.

O papa, nesse tema, limitou-se a apenas abençoar e não permitiu a realização de casamentos. Isso, porém, foi tido como um pontapé inicial em benefício para comunidade LGBT, que agora espera que o próximo papa tenha a mesma linha de pensamento e dê continuidade ao legado deixado por Bergoglio.

Outros pontos que mostraram que o pontífice tinha pensamento voltado à esquerda foram as indiretas dadas por ele ao então candidato à presidência da Argentina, Javier Milei. Durante o eleição de 2023, o lider católico fez uma declaração que evidenciou que ele era contra o político libertário conservador. 

Sem citar Milei, que estava à frente nas pesquisas eleitorais, ele disse que estava preocupado com “o triunfo do egoísmo sobre o comunitarismo” e que tinha “pavor de salvadores da nação sem histórico partidário”, uma clara referência ao Partido Libertário, fundado em 2019.

Em contra-ataque, Javier chamou o papa de “representante do maligno na terra”, imbecil” e de “filho da puta que prega o comunismo”.

Para a grande mídia, Francisco desafiou o conservadorismo. Em 2015, por exemplo, ele autorizou, por meio de carta apostólica, que todos os padres passassem a perdoar as mulheres católicas “que tivessem procurado o pecado do aborto” e que pedissem a remissão do ato. O posicionamento da Igreja contra a interrupção da gravidez é amplamente conhecido, mas apesar disso, ele priorizou a misericórdia divina.

O argentino também demonstrava flexibilidade a temas como celibato de padres e presença de mulheres em cargos administrativos. Esses posicionamentos fizeram sua popularidade cair entre católicos latinos; é o que mostra um levantamento feito pelo Pew Research Center, uma organização independente de pesquisa sediada em Washington (EUA), na Argentina, Colômbia, Brasil, México, Peru e Chile.

Na Argentina, seu país natal, a queda de popularidade foi a maior entre os países pesquisados. Há dez anos, quase todos os católicos entrevistados no país (98%) tinham uma opinião favorável sobre o santo padre, contra 74% no último levantamento.

A partida de Jorge — considerado um divisor de águas na história recente da comunidade católica — foi uma grande perda para os devotos. Agora resta saber os rumos que tomará a tradição do catolicismo: se terá um líder cristão ou um ‘político’, como muitos querem.

Esse artigo não reflete, necessariamente, a opinião do portal Diamante Online. 

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