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Brasil

Mulher diz que ficou sem andar, cega e surda após aplicação de silicone nos seios

A Polícia Civil abriu um inquérito para apurar possível erro médico.

Por Redação

15/04/2025 às 11:54 | Atualizado em 15/04/2025 às 12:00

Após a cirurgia, Luciene parou de andar e usa uma sonda — Foto: Arquivo pessoal

Uma vendedora de roupas de 27 anos acusa um hospital particular da Zona Norte do Rio de Janeiro de erro médico durante um procedimento cirúrgico — para o implante de uma prótese de silicone. Luciene de Souza afirma que, depois da intervenção, há quase 10 meses, chegou a perder totalmente a visão, não ouve e não anda. Atualmente, segundo Luciene, ela recuperou apenas 70% da visão.

Após o caso vir à tona, depois que Luciene expôs o caso nas redes sociais, a Polícia Civil abriu um inquérito para apurar o procedimento, no Hospital Semiu, na Vila da Penha.

Luciene disse que quis implantar o silicone após dar à luz os 2 filhos. Ela lembra que juntou mais de R$ 20 mil para o procedimento e que estava feliz em realizar o sonho.

No entanto, segundo sua família, durante o procedimento médico, Luciene teve uma parada cardíaca.

“No dia 26 de julho de 2024, eu realizaria um sonho: colocaria silicone. Mas esse sonho virou um pesadelo. Fui fazer uma cirurgia, feliz, porque eu queria colocar [as próteses] após ser mãe. Juntei dinheiro e paguei tudo. Mas, ao acordar, começou o pesadelo”, lembra a jovem.

Segundo a vendedora, durante a operação, ela só lembra de tudo escuro.

“Estava tudo escuro e eu pensei: ‘estou morta’. Comecei a falar com Deus, em pensamento, para que Ele não me deixasse morrer. Quem cuidaria dos meus filhos? Eles precisam de mim. Não sei quanto tempo depois, acordei já sem audição e com meu corpo paralisado do peito para baixo. Bateu um desespero”, diz Luciene.

Segundo a mulher, funcionários do Hospital Semiu fizeram vários exames para detectar o que aconteceu. No entanto, esqueceram de fazer os curativos nas mamas. Quando eles deram por si, de acordo com a mulher, os peitos da vendedora estavam necrosando.

“Eles esqueceram que colocaram o silicone. Quando abriram para fazer os curativos, estava necrosado. Tinha um buraco no meu peito. Mesmo assim, a médica me deu alta”, relata.

Segundo a técnica de enfermagem Dandara Castro, prima de Luciene, responsável por cuidar da vendedora, ela precisou ser internada no Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro do Rio, para retirar as mamas e fazer um implante.

“A minha prima foi submetida a 2 cirurgias no Souza Aguiar, após essa médica mandá-la para lá. Ela teve que fazer um enxerto, tirar das pernas e do bumbum para colocar no peito. Após a cirurgia, ninguém deu assistência. Ninguém fala o que aconteceu. Só disseram que ela teve uma parada cardíaca, e ficou por isso mesmo”, diz Dandara.

Nove meses depois do procedimento, a vendedora está sem as mamas, utiliza sonda para drenar a urina e tem dificuldades para enxergar, além de utilizar cadeira de rodas para se locomover.

“Ninguém sabe explicar o que eu tive. Eu estou apenas com 70% da visão, não ando e não escuto. Hoje eu só tenho ajuda da minha família e dos meus amigos”, destaca.

A família diz que procurou a delegacia após tentar resolver a situação amigavelmente. O caso foi registrado na 27ª DP (Vicente de Carvalho) como lesão corporal.

Em nota, a Polícia Civil disse que o caso foi registrado nesta quarta-feira (9) e que foram solicitados documentos da unidade hospitalar, que serão analisados. Ainda de acordo com a instituição, agentes da 27ª DP realizam diligências para apurar os fatos.

A vendedora Luciene de Souza antes de fazer a cirurgia — Foto: Arquivo pessoal

O outro lado

Através de uma nota, o Hospital Semiu disse que a médica que fez a cirurgia em Luciene “não possuía e não possui qualquer vínculo de preposição com esse nosocômio [hospital], de modo que a referida cirurgia se deu de forma autônoma e sob exclusiva responsabilidade técnica e administrativa da [médica]”. Ainda segundo o comunicado, “o hospital apenas cedeu suas instalações para a realização do procedimento”.

Segundo o Hospital Semiu, “é comum e rotineiro que médicos sem qualquer relação de preposição com hospitais utilizam-se dos centros cirúrgicos dos nosocômios [hospitais] para realizarem procedimentos médicos em seus pacientes, como no caso em questão, sendo esses médicos responsáveis pelo pré e pós cirúrgico dos pacientes”.

“As obrigações assumidas diretamente pelo complexo hospitalar em casos como esses ficam adstritos ao fornecimento de recursos materiais (instalações adequadas), aos quais a paciente jamais se queixou”, diz a direção do hospital.

Por fim, a unidade de saúde disse que “possui toda estrutura e suporte necessário para garantir a segurança para o tipo de procedimento que fora realizado pela paciente Luciene de Souza”.

Em nota, a médica disse que “todos os cuidados foram prestados com responsabilidade, seguindo os protocolos técnicos da especialidade. A paciente foi devidamente orientada antes da cirurgia, recebeu assistência pós-operatória contínua por mais de 30 dias e permaneceu sob acompanhamento até meu afastamento, por divergências com familiares quanto aos limites legais da atuação médica”, diz o documento.

Ainda segundo a cirurgiã, “não há qualquer indício de falha médica ou condenação contra mim. Confio plenamente na elucidação dos fatos e sigo firme no compromisso com a medicina responsável, ética e transparente”.

E a profissional finalizou: “mesmo diante disso, sigo à disposição para qualquer esclarecimento, sempre respeitando o sigilo profissional e as normas éticas que regem minha profissão”.

G1

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